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quarta-feira, 14 de abril de 2010

A 15 de Abril de 1828, morreu Francisco Goya




Em 30 de março de 1746 nasce no pequeno povoado de Fuendetodos, em Zaragoza, Francisco de Goya, sexto filho do casamento de José Goya - artesão e mestre dourador - e Engracia Lucientes, de família pertencente à pequena nobreza aragonesa. Após seu nascimento na casa dos avós maternos, Goya vive a primeira parte da vida - cerca de 30 anos - em Zaragoza. Ali começa seus primeiros estudos, inicia sua formação pictórica (como aprendiz no ateliê do pintor José Luzán) e faz seus primeiros projetos artísticos. 

Entre 1770 e 71 viaja para a Itália, para completar sua formação, e reside durante longa temporada em Roma, convivendo com o grupo de artistas da Via Condotti, especialmente com o pintor polonês Teodoro Kuntz. A Itália viria a ser muito importante na trajetória artística de Goya, não só porque ali pôde aprender e experimentar diversas técnicas (como afresco) ou copiar da realidade algumas obras que lhe interessavam e que serviriam como ponto de partida e catálogo de imagens para suas realizações posteriores, mas também porque permitiu a ele manter contato direto com a 'grande pintura' italiana e européia, fortaleceu seu caráter como pessoa e pintor, motivando maior ambição artística e preparando-o para alcançar os mais elevados objetivos. 
Após voltar da Itália em 1771, Goya é incumbido de pintar um afresco numa das abóbodas da Basílica del Pilar de Zaragoza, onde realiza um trabalho realmente magistral. 
Em Madri, no ano de 1773, casa-se com Josefa Bayeu, irmã de um dos acadêmicos mais influentes e Pintor do Rei, Francisco Bayeu, e de seu companheiro de formação artística em Zaragoza, Ramón Bayeu. Esta família de pintores acadêmicos aragoneses, com os quais estreitou laços de parentesco, abre-lhe as portas da Corte.
Começa a pintar retratos da alta nobreza madrilena em 1783. 
É nomeado Pintor do Rei em 1786. Durante esses anos Goya pinta e recebe muitas encomendas por intermédio de e com a tutela de seu cunhado, Francisco Bayeu. No princípio, muitas de suas pinturas estavam impregnadas do espírito e da estética academicista em moda na Corte espanhola, das quais Goya foi se libertando pouco a pouco - conforme conquistava maior independência artística e econômica com relação a seu cunhado Francisco Bayeu -, e alcançando um estilo muito pessoal, mais eclético em suas referências e soluções estéticas, em que já podemos descobrir alguns aspectos de sua genialidade, apaixonada expressividade e premonição de sua obra da maturidade. 
Ao conquistar prestígio na Corte, cada vez mais livre e seguro de si, Goya é nomeado em 1789 pintor do rei Carlos IV. Essa honraria e o reconhecimento artístico que lhe foi outorgado deram a Goya novas possibilidades e maior força para fazer a sua pintura. Mas não é esse o motivo principal pelo qual aprofunda de maneira particular o modo de interpretar o ser humano e seus espaços. 
Em 1792 Goya sofre grave enfermidade em Cádiz, levando-o à inatividade durante cerca de dois anos e provocando nele uma surdez irreversível. A forçada falta de comunicação com o mundo o leva a um estado de maior concentração e profunda reflexão sobre a sua pintura, a condição humana e a sociedade da sua época. 
Goya participa ativamente dos círculos cultos e liberais da Corte espanhola, muito sensibilizados pelos acontecimentos que se sucediam na Europa desde o início da Revolução Francesa (1789), e afirma paulatinamente seu caráter independente e hipercrítico a respeito de temas e assuntos que definiam a situação do Antigo Regime em que se encontrava a Espanha, tanto em seus fundamentos sóciopolíticos quanto nos costumes, criticando a sociedade, o estado clerical, a nobreza parasitária, combatendo a Igreja como instituição de controle social, a Inquisição, atacando duramente o casamento como convenção social, a hipocrisia como norma de conduta, a realidade da prostituição, a mendicância etc. Essa reflexão profunda e comprometida se traduz em imagens na série de gravuras Los Caprichos (1797/99), sem dúvida um dos documentos visuais mais certeiros, incisivos e francos criados por um artista sobre seu tempo, visto ser extraordinário em sua concepção plástica e perfeição técnica. 
Aos 53 anos de idade, chega ao reconhecimento oficial máximo que um artista poderia conseguir em vida na sua época. 
Começa, em 1800, o retrato coletivo da família de Carlos IV, sua consagração definitiva como pintor independente e anticonvencional, ao mesmo tempo em que suas interpretações psicológica e ideológica eram rechaçadas por parte dos monarcas retratados, motivando seu afastamento de novos trabalhos para a realeza. Os primeiros anos do novo século são de intenso trabalho - fundamentalmente em retratos - e de ilusão por uma mudança política e cultural previsíveis. 
Em 1808 o monarca espanhol abdica em nome do filho por pressão política da França. Os exércitos franceses de Napoleão ocupam territorialmente o país, chegando a impor José Bonaparte como novo rei da Espanha. Goya, como outros 30 mil chefes de família, jurou 'amor e fidelidade' ao rei estrangeiro. E, como muitos liberais, confiava na chegada de uma nova monarquia constitucional, na profunda transformação da sociedade e dos costumes, na consolidação de um ambiente culto, esclarecido, racionalista e liberal na Espanha. Mas o que havia sido, em princípio, uma 'revolução controlada', que trazia a esperança, converteu-se pouco a pouco em mera justificativa das aspirações expansionistas de Napoleão e em uma guerra aberta de conquista francesa e independência por parte dos espanhóis. Goya, como a grande maioria dos espanhóis cultos e liberais, sofre na carne e no espírito as contradições e conseqüências desse conflito de idéias - renovação e liberalismo de um lado e nacionalismo e resistência de outro -, o que, sem dúvida, foi uma amargura para ele durante as últimas décadas de sua vida, reforçou seu ceticismo e encheu de pessimismo suas criações mais pessoais e reflexões vivenciais e estéticas. 
Inicia o ciclo de desenhos e gravuras que constituirá mais tarde, em 1810, a série Los Desastres de la Guerra, documento visual excepcional das realidades e seqüelas de toda a guerra, em que Goya afirma com horror sua condição de testemunha - "Yo lo he visto", escreve sob algumas das imagens. 
Em 1812 morre sua mulher. Um ano depois acaba a Guerra de Independência espanhola, coincidindo com a deterioração do poder imperial napoleônico. 
No ano de 1814 regressa Fernando VII, filho de Carlos IV, em quem os liberais nacionalistas espanhóis haviam colocado todas as suas esperanças, resistindo e defendendo a Constituição de Cádiz. Esta ilusão, porém, se desvanece muito rapidamente: o rei decreta a abolição da Constituição, persegue os liberais e inicia um severo expurgo contra os 'colaboracionistas'. Entre eles se encontra Goya, que sofre a perseguição e investigação do Palácio e da Inquisição. São anos de situação delicada para o pintor: perseguido, forçado a uma grande atividade, pintando retratos para ganhar o favor de seus protetores ou acusadores, em um país em que a vertente reacionária recrudesce. Cada vez mais só e inseguro pela fuga e pelo exílio de seus amigos liberais, trabalha em nova série de gravuras - La Tauromaquia, Los Disparates -, se isola do mundo e da família (apenas reconfortado pela companhia da jovem Leocadia Weiss). 
Adquire uma nova residência em 1819 - a Quinta del Sordo - que será seu penúltimo refúgio pessoal e artístico. Tem uma grave enfermidade que quase o leva a morte. 
Um ano depois, aos 74 anos, começa a pintar nos muros de sua casa um ciclo de temas e imagens realmente excepcional e diferente, clandestino, hermético, esotérico - Las Pinturas Negras. Com cenas e personagens os mais terríveis, ou alegorias inquietantes, Goya oferece um amargo resumo de sua própria pintura e razão de ser, uma síntese definitiva de sua vida, dos muitos anos que pôde viver tão perigosamente, das muitas ilusões perdidas ou deixadas de lado, de suas incertezas e as de outros como ele que acreditaram no triunfo de um novo mundo, e tudo velado por uma densa atmosfera de melancolia e tristeza. 

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