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quarta-feira, 21 de abril de 2010

A 22 de Abril de 1724, nasceu Immanuel Kant


IMMANUEL KANT
Königsberg, 1724 - idem, 1804

Filósofo alemão. A vida de Kant não tem nada de extraordinário e bem pode dizer-se que encarna as virtudes (e talvez o aborrecimento) de uma vida integralmente dedicada ao estudo e ao ensino. Homem piedoso e de profunda religiosidade, que se revela na sua obra, é sóbrio de costumes, de vida metódica, benévolo e provinciano (só uma vez na sua vida deixa a sua Königsberg natal, e não mais de 12 km).    
Profundamente imbuído dos ideais do Iluminismo, experimenta profunda simpatia pelos ideais da Revolução Francesa e da independência americana. É pacifista convencido, antimilitarista e alheio a qualquer forma de patriotismo exclusivista.    
A exigência da clarificação do pensamento kantiano é tal que apenas a partir dessa postura se tem capacidade para examinar o seu sentido e alcance nos campos da teoria do conhecimento e da filosofia da ciência. Kant está intelectualmente situado numa encruzilhada, a partir da qual elabora diversas interpretações da razão, ponto de partida do pensamento moderno de onde se determinam a) a acção moral, b) o trabalho científico, c) a ordenação da sociedade, e d) o projecto histórico em que a sociedade se encontra.    
Não é possível redigir-se aqui uma exposição do sistema filosófico de Kant, coisa que requer todo um volume. Basta assinalar que o grande objectivo de Kant é determinar as leis e os limites do intelecto humano para ousar enfrentar, por um lado, o dogmatismo arrogante daqueles que sobrestimam o poder da mente humana e, por outro lado, o absurdo cepticismo daqueles que o subestimam. «Apenas deste modo [ou seja, por meio de uma crítica que determine as leis e os limites da razão humana] poderão arrancar-se as raízes do materialismo, do fatalismo e do ateísmo.» E propõe-se, com isso, «pôr fim a toda a futura objecção sobre a moralidade e a religião, apresentando as mais claras provas da ignorância dos seus adversários».    
Quanto ao seu sistema filosófico, o mesmo sugere um paralelo com Copérnico. Kant imagina para a filosofia o mesmo que imagina Copérnico para a astronomia. Assim como Copérnico determina a importância relativa e a verdadeira posição da Terra no sistema solar, Kant determina os limites e a verdadeira posição do intelecto humano relativamente aos objectos do seu conhecimento. E do mesmo modo que Copérnico demonstra que muitos dos movimentos aparentes dos corpos celestes não são reais, mas que se devem ao movimento da Terra, Kant mostra que muitos fenómenos do pensamento requerem explicação, mas não atribuindo-os, como muitos filósofos, a causas externas independentes, mas às leis essenciais que regulam os próprios movimentos do pensamento.    
Kant encarna a razão ilustrada. Expressa com clareza e exactidão o carácter autónomo da razão tal como a concebem os iluministas. O iluminismo é o facto que leva o homem a deixar a menoridade; menoridade de que ele mesmo é culpado. A referida menoridade consiste na incapacidade para se servir do próprio entendimento sem a direcção de outro. A própria pessoa é culpada dessa menoridade se a causa da mesma não reside num defeito do entendimento, mas na falta de ânimo e de decisão para se servir dele com independência, sem a condução de outro. Sapere aude, «atreve-te a servir-te do teu próprio entendimento»: tal é a divisa do iluminismo.    
Quanto aos limites da razão, são impostos pela sua própria natureza. A razão é uma e a mesma para todos os povos, homens, culturas e épocas, e tem uma essência ou natureza fixa que se desenvolve no tempo, mas sempre segundo a sua própria essência.    
Por outro lado, a razão iluminista é crítica (contra os preconceitos, contra a tradição, contra a autoridade não racional, contra a superstição). Assim compreendida, não é uma mera negação de certas dimensões da realidade e da vida, ou de questões como a legalidade política, a religião ou a história, mas a recusa de um modo de as entender que se opõe à ideia de clarificação racional. A razão ilustrada é, além do mais, tolerante. Como dizia Voltaire, a tolerância é o património da razão.    
A razão tem uma natureza própria e, além disso, é o instrumento ou meio de conhecer como interpretar o mundo e exercer a crítica. A razão iluminista é analítica no sentido em que é 1) capacidade de adquirir conhecimentos da experiência e 2) capacidade de analisar o empírico tentando compreender, numa aliança entre o empírico e o racional, a lei que governa.    
Em termos gerais, o pensamento kantiano é uma tentativa original e vigorosa de superar e sintetizar as duas correntes filosóficas fundamentais da modernidade: o racionalismo e o empirismo. Mas a obra de Kant vai mais além, e nela entrecruzam-se todas as correntes que constituem a trama do pensamento do século xviii. É, pois, o filósofo mais representativo deste período.    
O criticismo de Kant é uma filosofia que tenta responder a três perguntas básicas: Que posso saber?, Que hei-de fazer?, Que posso esperar?   
Que posso saber? Para o conhecimento universal e necessário ser possível, e dado que não pode provir da experiência, é preciso que os objectos do conhecimento se determinem na natureza do sujeito pensante, e não ao contrário. A Crítica da Razão Pura de Kant leva a cabo esta revolução do método e mostra como o entendimento, ao legislar sobre a sensibilidade e a imaginação, torna possível uma física a priori. Mas, se a natureza está submetida ao determinismo, pode o homem ser livre? Kant leva a cabo a revolução copernicana no terreno prático postulando a existência de uma alma livre animada por uma vontade autónoma.    
Que hei-de fazer? «Actua estritamente segundo a máxima que faz que possas desejar simultaneamente que se converta numa lei universal.»   
Que posso esperar? Para a espécie humana, o reino da liberdade garantido por uma constituição política. Para o indivíduo, o progresso da sua virtude e um melhor conhecimento do outro e de si mesmo através da arte.    
No que se refere ao idealismo, a filosofia kantiana lega aos seus sucessores três grandes problemas: 1) a sua concepção do idealismo como idealismo transcendental; 2) a oposição entre a razão teórica e a razão prática, e 3) o problema da coisa em si.    
A filosofia posterior a Kant assume até às suas últimas consequências a razão crítica. Os filósofos esforçam-se por desenvolver as teses kantianas na linha da razão prática. Tanto o idealismo subjectivo de Fichte como o idealismo objectivo de Schelling são tentativas muito meritórias nessa linha. Mas a superação do kantismo não se consegue até à formulação do sistema de Hegel.    
As obras de Kant costumam distribuir-se por três períodos, denominados pré-crítico, crítico e pós-crítico. O primeiro momento corresponde à sua filosofia dogmática, à sua aceitação da metafísica racionalista, na peugada de Leibniz e de Wolff. No segundo período escreve as suas obras mais conhecidas e influentes: Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e a Crítica do Juízo. Além destas grandes obras, Kant publica diversos estudos e opúsculos. Pelo vigor e originalidade do seu pensamento e pela sua influência sobre o pensamento filosófico, Kant é justamente considerado um dos filósofos mais notáveis da cultura ocidental.

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