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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Principais protagonistas do Maio de 68 em França


Pequenas biografias dos que dirigiram o movimento de Maio de 68 francês, e também dos que participaram, dos que influenciaram e dos que se opuseram. Textos baseados num dossier preparado pelo Nouvel Observateur.



Daniel Cohn-BenditDaniel Cohn-Bendit
Tinha 23 anos em Maio de 1968 e estudava na universidade de Nanterre, nos arredores de Paris. Cria o Movimento 22 de Março e fica conhecido como "Dany o vermelho", um dos porta-vozes e líderes da revolta. O governo aproveita a sua saída do país para lhe retirar o direito de residência em 22 de Maio, mas volta clandestinamente uns dias depois. Só em 1978 volta a poder residir legalmente em França. Em 1984 adere ao partido Verde alemão, e depois ao francês. É actualmente eurodeputado.
Alain GeismarAlain Geismar
Tinha 28 anos em Maio de 1968. Trabalhava como professor assistente no laboratório de física da rua de Ulm e era o secretário-geral do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNEsup). No dia 3 de Maio, lançou um apelo à greve geral do Ensino Superior. Depois de 1968, dirigiu uma organização maoísta, a Esquerda Proletária. Foi preso em 1970. Inspector-geral de Educação nacional em 1990, torna-se membro dos gabinetes dos ministros de Educação nos governos de Michell Rocard e de Edith Cresson. Actualmente é mestre de conferências do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Jacques SauvageotJacques Sauvageot
Tinha 25 anos em Maio de 1968 e estudava direito e história de arte na Sorbonne. Era militante estudantil do PSU e vice-presidente da União Nacional dos Estudantes Franceses (UNEF). Em 3 de Maio, faz parte da delegação que vai negociar a saída dos polícias de choque que irrompe no pátio da Sorbonne ocupada pelos estudantes. Resultado: é preso, junto outros 570 estudantes. Em Maio de 1969, torna-se presidente de honra da UNEF e adere ao PSU de Michel Rocard. Hoje, é professor de história de arte e director da Escola de Belas-Artes de Rennes.
Alain KrivineAlain Krivine
Tinha 27 anos em Maio de 1968. Secretário de redacção na editora Hachette, dirigia a Juventude Comunista Revolucionária (JCR), que ele mesmo fundara com Henri Weber. Desde o 3 de Maio está na rua ao lado dos estudantes e é um dos 570 presos quando da invasão policial à Sorbonne. A JCR é dissolvida em Junho, e Krivine é preso em Julho, sendo libertado no Outono. Em 1969, funda a Liga Comunista Revolucionária, da qual é ainda um dos porta-vozes, junto com Olivier Besancenot.
sartre.jpgJean-Paul Sartre
Tinha 63 anos em Maio de 1968. O filósofo e escritor defendia o empenhamento político do intelectual e, coerente com isso, já apoiara os independentistas argelinos da Frente de Libertação Nacional (FLN), e a revolução cubana. Militante activo, defende o Maio de 68 na imprensa (entrevista Cohn-Bendit para o Nouvel Observateur), e vai à Sorbonne e às portas das fábricas ocupadas. É ele que lança a palavra-de-ordem "Eleições, armadilhas de parvos" (Elections, pièges à con). No plano internacional, condena, em Agosto de 1968, a intervenção soviética na Primavera de Praga. Em Maio de 1973, faz parte dos fundadores do diário Libération. Morre em Abril de 1980.
Jean-Luc GodardJean-Luc Godard
Tinha 37 anos em Maio de 1968. Cineasta militante, impulsionador da "Nouvelle Vague" que revoluciona o cinema francês, envolve-se na acção militante antes do Maio de 68, como é exemplo o filme "La Chinoise" (1967). Os anos 60 vêem-no apelar aos técnicos da CGT a sabotar as intervenções televisivas do presidente De Gaulle. Esteve à frente da contestação ao afastamento de Henri Langlois da direcção da Cinemateca. Em Maio de 1968 interrompe o festival de cinema de Cannes. Com o grupo "Dziga Vertov", fundado em 1969 com militantes marxistas-leninistas, entrega-se plenamente durante vários anos ao cinema político.
Waldeck RochetWaldeck Rochet
Tinha 63 anos em Maio de 1968. Secretário-geral do Partido Comunista Francês desde 1964, decidiu "não ir para a insurreição" que é, aos seus olhos, "a posição aventureirista de certos grupos ultra-esquerdistas". Prefere, diz, "agir de forma a que a greve permita satisfazer as reivindicações essenciais dos trabalhadores e prosseguir, ao mesmo tempo, no plano político, a acção com vista das mudanças democráticas necessárias no quadro da legalidade". Partidário moderado de uma desestalinização do PCF, toma, pela primeira vez na história do comunismo francês, distância em relação à União Soviética, condenando a intervenção do Pacto de Varsóvia na Checoslováquia (ao contrário do Partido Comunista Português). Morre a 15 de Fevereiro de 1983.
Georges SeguyGeorges Seguy
Tinha 44 anos em Maio de 1968. Era há um ano secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e ficará no posto até 1982. Também era do bureau político do PCF desde 1960, cargo que deixará em 1970. A pedido do PCF, a CGT não apoia plenamente o movimento de Maio de 68, cujo controlo lhe escapa e em relação ao qual teme o esquerdismo. Para Seguy, trata-se de um movimento "lançado com grande publicidade que, no nosso ponto de vista, não tem outro objectivo senão conduzir a classe operária para aventuras, apoiando-se no movimento dos estudantes." É um dos principais negociadores dos acordos de Grenelle, que serão concluídos a 27 de Maio entre sindicatos, patronato e governo, e apelou ao regresso ao trabalho. Em 1969, criou o Centro Confederal da Juventude (CCJ), rebaptizado depois em "Jovens-CGT". Hoje é presidente de honra do Instituto CGT de História Social.
Pierre Mendès-FrancePierre Mendès-France
Tinha 61 anos em Maio de 1968. Era deputado por Grenoble sob a bandeira do Partido Socialista Autónomo (PSA). Figura de referência da esquerda francesa que estava em processo de reconstrução, aparece como o homem providencial para a saída da crise. Dá um apoio tácito ao movimento estudantil ao participar da assembleia do estádio Charléty no dia 27 de Maio, mas mantém-se silencioso, o que será muito criticado mais tarde. "Esse poderia ter sido o momento de uma mutação profunda", à qual "aspirava uma imensa massa de franceses", lamentará mais tarde. Em Junho de 1968, é derrotado nas eleições e abandona o PSA. Em 1969, faz campanha por gaston Deferre para as presidenciais. Doente, toma distâncias da vida política francesa e dedica-se ao conflito do Médio Oriente. Em 1981, apoia a candidatura de François Mitterrand. Morre em 18 de Outubro de 1982.
Charles De GaulleO general De Gaulle
Tinha já 77 anos em Maio de 1968 e era o presidente da República francesa desde 1959. Foi totalmente ultrapassado pelo movimento que classificou de "chienlit", termo que literalmente significa "defecar na cama" e que foi usado no sentido de caos, confusão, bagunça, quando ele disse "Reforma sim, chienlit não". Os cartazes dos estudantes responderam imediatamente: "La chienlit c'est lui" (A bagunça é ele). Preferiu o recurso à força que a política mais conciliadora defendida pelo primeiro-ministro Georges Pompidou, mas acabou por deixar-lhe a condução do processo. Os acordos de Grenelle, concluídos a 27 de Maio entre os sindicatos, o governo e os patrões representam conquistas sociais mas não resolvem imediatamente a crise. A 29 de Maio, vaii secretamente a Baden-Baden reunir-se com os chefes militares; volta e diz na TV: "Não me vou embora", anunciando a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas. Os seus partidários organizaram então uma grande manifestação de apoio. Venceu as eleições, mas renunciou um ano depois quando recebeu um "não" num referendo sobre a sua proposta de descentralização. Morreu em 9 de Novembro de 1970.
Maurice GrimaudMaurice Grimaud
Tinha 55 anos em Maio de 1968 e era, desde 1967, chefe da polícia de Paris. É conhecido por ser "o homem que evitou o banho de sangue", pelas suas reticências em relação ao uso da força contra os manifestantes. No dia 3 de Maio, recusa-se a enviar os CRS (Polícia de choque) à Sorbonne, mas é De Gaulle que tem a última palavra: a evacuação dos estudantes da faculdade é a chispa que ateia fogo à pólvora. Nomeado secretário-geral da Aviação Civil em 1971, deixa o público pelo privado em 1975 e em 1981 torna-se director do gabinete do ministro do Interior Gaston Deferre, e depois conselheiro de Pierre Joxe até 1986. Delegado junto ao mediador da República até 1992, está hoje na reforma.
Georges PompidouGeorges Pompidou
Tinha 57 anos em Maio de 1968 e era primeiro-ministro desde 1962. Defendeu uma política de conciliação face à revolta, consegue convencer o general De Gaulle, depois dos primeiros conflitos no Quartier Latin, a não continuar a usar a força. É um dos artífices do acordo de Grenelle, de 27 de Maio e é ele também que está por trás da decisão de De Gaulle de dissolver o Parlamento e fazer um referendo. Reforçado pelas eleições antecipadas que trazem uma nova vitória da direita, De Gaulle agradece o seu primeiro-ministro, mas substitui-o por Maurice Couve de Murville. Depois da renúncia de De Gaulle, no ano seguinte, Pompidou é eleito presidente em 15 de Junho. Morreu antes do final do mandato, em 2 de Abril de 1974.
Cartaz de um CRS com as letras O CRS
Tinha 23 anos em Mao de 1968, era um homem e andava sempre em grupo. Figura emblemática do movimento estudantil, pertence às "Companhias Republicanas de Segurança", as forças móveis criadas em Dezembro de 1944. Foram utilizadas 40 companhias simultaneamente para reprimir a revolta. Outras unidades foram igualmente usadas nas cidades de província. Verdadeiros combates foram travados nas ruas opondo, de um lado, os CRS, com as suas matracas, gás lacrimogénio e escudo, e os estudantes nas barricadas, com os paralelepípedos, os cocktails Molotov e o grito "CRS=SS". No fim da revolta, os CRS contavam 656 feridos.
 
Pierre Grappin
Tinha 53 anos em Maio de 1968. Autor do dicionário franco-alemão "Grappin", ele está, enquanto decano da Universidade de Nanterre, na primeira linha dos acontecimentos de 68. No dia 2 de Maio, depois de se saber que oito líderes do Movimento do 22 de Março foram convocados ao Conselho Disciplinar, decide, de acordo com o ministro Alain Peyrefitte, suspender os cursos da Universidade de Nanterre. Morreu em 1997.

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