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segunda-feira, 17 de maio de 2010

A 18 de Maio de 1980, há precisamente 30 anos, Ian Curtis suicidou-se


A 18 de Maio de 1980, há precisamente 30 anos, Ian Curtis, o epicentro criativo dos ingleses Joy Division, suicidou-se. Na noite anterior, tinha pedido à mulher que o deixasse sozinho em casa. Fumou cigarros, esvaziou uma garrafa de whisky, pôs a girar o vinil "The idiot", de Iggy Pop, viu na televisão o filme "The Stroszek", de Werner Herzog, e escreveu uma carta "Já não aguento mais", lia-se, à segunda frase.
Por volta das cinco da madrugada, Ian Curtis colocou uma corda à volta do pescoço e enforcou-se. Era novo, demasiado novo - tinha 23 anos. O episódio colocou um dramático ponto final na carreira dos Joy Division e, mais do que isso, catapultou o cantor para o estatuto de um dos grandes mitos da história do rock. A sua morte voluntária já foi alvo de inúmeras interpretações, especulações e divagações.
Uns dizem que sempre fora seu desejo morrer novo. Outros asseguram que foi o excesso da medicação que Curtis tomava para curar os seus cada vez mais frequentes ataques de epilepsia. E também há quem arrisque dizer que Ian Curtis resolvera desistir de lutar contra os sismos desencadeados por uma relação com uma amante.
Esta última tese ganhou particular relevo na última década, desde que Deborah Curtis, viúva do cantor, editou o livro "Touching from a distance" ("Carícias distantes", na tradução portuguesa de Ana Cristina Ferrão).
Nele, Deborah descreve a sua relação com o cantor, dando particular relevo à sua faceta de ciumento, possessivo e, ao mesmo tempo, mentiroso e infiel. A obra, que surpreendeu muita gente, foi  adaptada para cinema por Anton Corbijn .
Tumultos interiores
Deborah conheceu Ian quando ambos eram muito novos. Há uma passagem no livro particularmente esclarecedora dos tumultos interiores que Ian já sentira na sua adolescência, acompanhado por amigos e alguns aditivos "As drogas que tomavam obliteravam-lhe os sentidos", escreve Deborah, " e Ian costumava frequentemente infligir dor a si próprio para ver quanto é que aguentava naquele estado anestésico. Utilizava cigarros para queimar a pele e batia na perna com os pitons de um sapato de corrida".
Beleza devastadora
Não foi preciso muito tempo para que o Mundo percebesse que a música dos Joy Division não era, definitivamente, uma música qualquer. Era algo que partia do punk para um outro patamar não somente cantava a rebeldia ou a inadaptação como ia mais longe. De um desencanto tingido a cinza, sépia ou preto e branco, a música dos Joy Division era - é - um violento soco no estômago e já muita adjectivação foi gasta na hercúlea tentativa de descrevê-la: asfixiante, claustrofóbica, letal, de uma tristeza devastadora, etc.
A forma como Ian Curtis se movia em palco também desencadeava reacções de espanto. "Um homem em chamas ou uma marioneta demente", descreveu um crítico britânico. Al Berto, poeta português, por seu turno, escreveu "Noite de Lisboa com auto-retrato e sombra de Ian Curtis". E aí se lê "depois dança contorce-se embriagado/ cobre o rosto suado com a ponta dos dedos espalha/ sangue e cuspo construindo a sua derradeira máscara/ cai para dentro do seu próprio labirinto/ como se a verticalidade do corpo fosse um veneno".
A história, entretanto, já se encarregou de fazer dos Joy Division um dos mais marcantes e influentes grupos das duas últimas décadas. Apontada como a primeira banda do pós punk, é, em grande parte, a responsável por toda a melancolia que marcou as colheitas da música britânica na década de 80.
E, ainda hoje, o seu legado detecta-se em nomes como Interpol e Bloc Party, entre muitos outros.

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