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sábado, 13 de novembro de 2010

Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu a 14 de Novembro de 1839



Júlio Dinis
Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho (1839-1871), nasceu no Porto e foi entre esta cidade, Ovar e o Douro que passou grande parte da sua vida. Tirou o curso de medicina na Escola Médica do Porto, aliando a profissão de médico à de escritor. Os seus primeiros textos foram publicados em A Grinalda e em O Jornal do Comércio. De uma família de tuberculosos (a mãe e os irmãos morreram com essa doença), Júlio Dinis contrai também a doença e parte numa cura para a Madeira, cura esta que de pouco lhe valeu, falecendo ainda muito novo. Obras: As Pupilas do Senhor Reitor (1867), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873) e Teatro Inédito (3 volumes – 1946-1947).
Na curta existência de trinta e dois anos, produz muitas obras de gêneros diversos: teatro, poesia, contos e romances. Seus romances constituem um valioso documento sobre Portugal, numa fase em que esse país sofre transições políticas e econômicas, promovidas pelo regime neoliberal. Registra em sua obra os resultados positivos das reformas econômicas e o estilo de vida da burguesia triunfante. A obra mais famosa de Júlio Dinis é As Pupilas do Senhor Reitor (1867). Escreveu ainda: Os Fidalgos da Casa Mourisca (1872), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868) e Serões da Província (1870), coletânea de contos. Júlio Dinis é um romancista de um período de transição entre o Romantismo e o Realismo. Filiado ao movimento romântico, mas realista pela preocupação da verdade em suas descrições, nos caracteres e na evolução da intriga, utiliza processos do romance realista inglês. Em As Pupilas do Senhor Reitor, Júlio Dinis preocupa-se com os aspectos morais na caracterização das personagens, como vemos no trecho a seguir: O reitor Ao deixar José das Dornas, na tenda do seu vizinho da esquina, o reitor, apoiado na grossa bengala de cana, companheira fiel das fadigas de muitos anos, foi seguindo pelos caminhos poucos cômodos da sua paróquia, e entrando nas casas mais pobres, onde levava a esmola e o conforto de doutrinas evangélicas que tão singelamente sabia pregar. Era esta, para ele, tarefa habitual. Sentava-se com familiaridade à cabeceira do jornaleiro doente, ele próprio lhe arrefecia os caldos, lhe temperava os remédios e lhos ajudava a tomar; guiava com os conselhos e ensinava com o exemplo dos enfermeiros que, entre a gente pobre dos campos, são quase sempre os mais pequenos da família, aqueles que, pela idade, representam ainda uma parte pouco produtiva de receita; porque os outros reclamam-nos as exigências imperiosas do trabalho. No cumprimento desta obra de misericórdia, atravessou o reitor quase toda a aldeia, e com o coração apertado pelos infortúnios que vira, e desafogada a consciência pelo bem que fizera, continuava placidamente a sua tarefa abençoada. Depois de muito andar e de muito consolar misérias, parou algum tempo por debaixo das faias, que assombravam um largo terreiro, e sentou-se com o fim de ganhar forças para prosseguir. Enquanto descansava foi dar balanço às algibeiras, que trouxera bem providas de casa. Este balanço foi desanimador para os projetos ulteriores do velho. A esmola, essa sublime gastadora, que nunca abandonava a direito do pároco nestas visitas pastorais, havia-lhe esgotado o capital, sem que ele desse por isso. O reitor mostrou-se mortificado; não que lamentasse o dinheiro gasto assim, mas porque estava longe de casa, e tinha ainda mais infelizes a socorrer. (DINIS, Júlio, As Pupilas do Senhor Reitor. 4ª ed.
Júlio Dinis - cujo conhecimento da língua e da cultura inglesas (a sua mãe era de ascendência irlandesa) lhe possibilitou a leitura de novelistas como Jane Austen, Richardson, Thackeray e Dickens, cujas obras são marcadas pelo realismo psicológico - deixou uma produção romanesca eivada de componentes realistas e românticos. Assim, se a sua concepção do romance, exposta em Inéditos e Esparsos, baseada na lentidão da narrativa, na averiguação da verdade, no tratamento de temas familiares e quotidianos, o aproxima da estética realista, a idealização do campo, da mulher, da família, a tendência para a solução harmoniosa dos conflitos, o pendor moralizador dos desfechos das intrigas, o optimismo do seu ideal social, em que felicidade amorosa e harmonização social são indissociáveis, têm ressonâncias românticas.

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