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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mantenham a calma...

Mantenham a calma...
por João Carvalho | 28.04.10 | 
O rating de Portugal no exterior desce de A+ para A-. Como tantos avisam há muito, a situação económico-financeira continua a deteriorar-se e o país vai perdendo crédito sucessivamente.
Tomo conhecimento da reacção de Teixeira dos Santos. O ministro das Finanças responde aos factos com frases feitas, lugares-comuns e ideias redondas, do tipo «há que executar as medidas necessárias», «o dia de amanhã vai ser a continuação do dia de hoje», «agora há que agir, há que actuar, há que tomar medidas». Ainda por cima, a resposta é em forma de comunicado escrito e, no entanto, parece-me coisa atabalhoada feita em cima do joelho. Por exemplo: «Os mercados têm revelado uma turbulência muito significativa no que se refere à dívida portuguesa e, pelo contrário, acho que uma notícia destas não vai serenar os mercados, que vão continuar a manifestar essa turbulência e esse nervosismo».

Não preciso de ser especialista para parar, reflectir e tentar ordenar alguns dados. Só corro o risco de pecar por omissão. Vejamos.
 Pior do que não haver contenção na despesa pública e começar a cortar nela, é saber que, enquanto a inflacção se tem mantido praticamente inalterável, a despesa pública até aumentou quatro por cento.
 Estamos a entrar no quinto mês do ano e o Orçamento do Estado (OE), apresentado e aprovado tarde e a más horas, ainda não está a ser executado.
 O Plano de Estabilidade e Crescimento (PREC), segundo os mais variados entendidos que ouço, é tímido e insuficiente na estabilidade e é nada de nada no crescimento. Além disso, o PREC também não está a ser executado.
 É hoje um dado adquirido que a Saúde pública, um monstro que suga o OE até ao tutano, tem 25 a 30 por cento de desperdício nos seus gastos monumentais. Só que ninguém impede que as horas extraordinárias no sector subam todos os meses, nem põe cobro à gestão desastrosa que as contas comprovam.
 Do trabalho do actual Executivo, que herdou do anterior uma espécie de legado atribuído a si próprio, tenho dificuldade em lembrar-me de muito mais do que da urgentíssima promoção legislativa de casamentos gay e da reabertura de um diálogo com os professores que já está inquinado. Seis meses depois de tomar posse, deve ter feito mais do que isto e estou seguramente a ser injusto, mas tenho a certeza de que nada fez do que todos queríamos: ninguém está melhor, a pobreza não está a diminuir, o país não recupera uma migalha do que anda a perder há anos.
Apesar de considerar este ponto da situação muito incompleto e imperfeito, creio que é possível tirar algumas conclusões sérias e concretas, nenhuma delas relaxante — excepto para o governo, pelos vistos.

A situação é favorável? Não é. É má? É. Estamos perigosamente parecidos com a Grécia? Não sei. Acho que estamos parecidos com o barco que se afunda e em que o capitão tranquiliza os passageiros:
— Atenção! A situação não é grave, mas é dramática. Atenção! Mantenham a calma e salve-se quem puder.

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