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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Relato de Um Dia Abaixo de Cão


Relato de Um Dia Abaixo de Cão

Ontem foi dia de passeio a Alcobaça e, enquanto me lembrar do que me enervei sentindo-me perfeitamente impotente para pôr cobro a comportamentos verdadeiramente inadmissíveis, não acompanharei em viagem de não sei o quê alunos que desconheço.
Os alunos eram todos de 9º ano, idade mais do que suficiente para terem todos juízo e saberem muito bem o que andam a fazer nesta vida, e saberem como estar aqui, ali ou acolá. Ocupavam 3 camionetas. Na minha camioneta ia a turma da qual sou directora, os meus queridos jardineiros, e mais duas turmas lá da escola. E durante a viagem os palavrões foram-se escapando aqui e ali, sem qualquer respeito pelas professoras que os acompanhavam. Bem sei que não foram os alunos todos, talvez nem meia dúzia de perfeitos desconhecidos, mas eu garanto que por mais anos que viva jamais me deixarei de sentir profundamente incomodada pela linguagem indecorosa, obscena, grosseira e rasca que "vejo" sair da boca de alguns meninos e meninas, estudantes, que se estão a marimbar para tudo e para todos, e se comportam com o à vontade de quem sente que isto aqui é tudo nosso... deles, portanto.
Confesso que me enervei. Por dentro. Por fora lá lhes fui pedindo, educadamente, para não usarem aquele tipo de linguagem sempre que daquelas línguas de lavagem saía o que eu tive de gramar.
Chegados a Alcobaça entrámos em dois grupos distintos já que 
nãoera aconselhável entrar tanta moçarada de rompante. Entrei com o primeiro grupo composto de alunos da EB de Amarante e de Telões.
E foi aqui, dentro de um dos edifícios mais belos e espirituais que conheço, que começou o meu calvário. Os meus jardineiros andaram à minha volta, e eu só lhes fazia sinal de silêncio com o dedo em riste sobre os lábios, enquanto olhava em redor, dizendo baixinho "Isto não pode ser! Isto não pode ser!". Só que pelos vistos podia e eu fui assistindo a um verdadeiro chiqueiro de gente que quer lá saber se está num local de culto ou no meio de uma 
rave na floresta da Amazónia!
Desde falarem alto e bom som, darem guinchos estridentes, andarem em correrias, insultarem-se uns aos outros e andarem aos empurrões, a tudo de impensável me foi dado assistir durante o tempo daquela visita. E eu tentando atalhar aqui e ali, em absoluto desespero, com a perfeita consciência do meu fracasso total. "Vocês não podem fazer este barulho aqui dentro!" "Falem baixo!" "Estão num local de culto!" A alguns questionei-os mesmo "És católico(a)?" Viravam-se para mim estupefactos "Sou." - foi a 
invariávelresposta." "Pois eu não sou e estou profundamente incomodada com o vosso comportamento aqui dentro. Para um católico, esta é a Casa de Deus. Respeitem-na!"
Mas qual quê! Impossível 
contê-los, impossível controlá-los.
Queria ter um 
buraquinho algures para desaparecer dali para fora, envergonhada pelo comportamento daqueles alunos de 9º ano, da minha escola, muito embora não meus. Queria ter tido uma possibilidade de fuga, uma escapatória... que não tive.
De referir que não foram, evidentemente, todos os alunos. Tive honrosas excepções que, sabendo que eu era professora de História, se interessaram por confirmar onde estava presente o estilo gótico, o manuelino, o barroco e outras curiosidades que tais.
Salvaram-se(me) os meus jardineiros, que andaram frequentemente à minha volta e portaram-se como uns senhores. Movimentaram-se calmamente, falaram baixo, não lhes ouvi um palavrão, não se pegaram uns com os outros, não andaram aos empurrões, não se insultaram uns aos outros.
Na próxima aula não deixarei de lhes afagar a alma e não me esquecerei de lhes agradecer aquele comportamento exemplar que pude observar em cada um deles. Obrigada alunos meus. Quanto a vocês... foi um orgulho poder acompanhar-vos neste passeio escolar. Quanto aos outros, aos que eu desconheço, pena que não lhes possa chegar como cheguei a 
estes que, depois de fazerem um mea culpa com relato escrito do seu mau comportamento, chegaram à conclusão que só lhes restava fazer um pedido escrito de desculpas, que foi entregue em mão a quem de direito.

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