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sábado, 29 de maio de 2010

A 30 de Maio de 1814, nasceu Bakunin

Nascido em 1814 na Rússia czarista, Bakunin rapidamente desenvolveu um ardente ódio contra as injustiças. Com a idade de 21 anos, depois de alguns anos de uniforme militar, ele resignou do exército e começou a misturar-se em alguns círculos democráticos. Nove anos depois ele encontrou-se com radicais como Proudhon e Marx em Paris. Por essa altura ele tinha também  formulado a teoria que via a Liberdade como sendo unicamente conseguida pelo levantamento generalizado da população, ligada às revoluções que se realizassem em determinadas nações. A sua campanha apaixonante pela democracia e anti-colonialismo fizeram dele o “inimigo público número um” aos olhos da maioria das monarquias europeias. No ano de 1848 ele foi expulso de França por fazer um discurso em favor da independência da Polónia. A sua paixão pela liberdade e igualdade, e as suas condenações da injustiça e dos privilégios deram-lhe uma enorme atracção no movimento radical desses dias de então.
                                                                            
No ano seguinte Bakunin avançou para Dresden (Alemanha), onde jogou um papel determinante na insurreição de Maio. Isso conduziu à sua prisão e ele foi então sentenciado à morte. A monarquia austríaca também o queria, então ele foi extraditado e outra vez condenado à morte. Mas antes que o seu carrasco lhe pudesse pôr o laço à volta do seu pescoço, a Rússia então também exigiu a sua extradição e ele gastou os seis anos seguintes da sua vida encarcerado sem julgamento na fortaleza de Paulo e Pedro. Libertado da prisão, foi então enviado para o exílio na Sibéria.
                                         

A fuga da Sibéria. 
                                                                                            

Em 1861 ele fez uma dramática fuga e retornou à Europa pelo Japão (via Canal do Panamá e São Francisco!). Nos três anos seguintes ele lançou-se na luta pela independência polaca. Então ele começou a repensar as suas ideias. Poderia a independência nacional, ela mesma por si só, conduzir à liberdade do povo trabalhador e das massas populares? Isto fez com que ele avançásse ideologicamente, passando do nacionalismo para o anarquismo. Em 1868 ele juntou-se então à Associação Internacional dos Trabalhadores (também conhecida por Primeira Internacional). Uma federação radical de organizações sindicais com secções na maioria dos países europeus. Muito rapidamente as suas ideias desenvolveram-se e ele tornou-se um famoso expoente do anarquismo. Enquanto que de acordo com a maioria da teoria económica de Marx, ele rejeitou contudo a sua política autoritária, e a maior divisão dentro da AIT foi entre anarquistas e marxistas.           
Ficaram célebres as suas discussões e polémicas com K. Marx.             
Enquanto Marx acreditava que o socialismo podia ser construído pela tomada do poder do estado, Bakunin via mais para além, acreditava na sua destruição e na criação de uma nova sociedade baseada em federações livres de trabalhadores e homens livres. Isto em breve tornou-se a politica da Internacional em Itália e Espanha, e cresceu em popularidade na França, Bélgica e Suiça; em Portugal e na Ucrânia por exemplo, como elos mais fracos do capitalismo, levou a formas de lutas mais avançadas, unindo os trabalhadores sob os ideais libertários. Depois de falhar de derrotar a ideia anarquista, e sentindo-se vencido, K. Marx e os seus seguidores tentaram por todos os meios denegrir Bakunin numa campanha de mentiras e de calúnias contra a sua pessoa.
                                                                               

O movimento nasceu.
                                                                                                                
Um comité constituído para investigar as acusações, julgou por maioria Bakunin como sendo culpado e votou a sua expulsão. A secção da Suiça convocou um seguinte Congresso, onde as acusações foram reconhecidas como falsas. Uma conferência internacional também justificou Bakunin, e adoptou a posição anarquista de rejeitar qualquer papel dirigente por uma minoria. Derrotado, Marx e os seus seguidores mudaram a sede do Conselho Geral da Internacional para Nova Iorque onde ela murchou até à sua irrelevância. As ideias desenvolvidas por Bakunin na última década da sua vida, progrediram até se tornarem a base do movimento anarquista moderno. Desgastado por uma vida de luta permanente, Bakunin morreu na Suiça em 1 de Julho de 1876. O seu legado é enorme. Embora ele tenha escrito manifestos, artigos e livros, ele nunca acabou um simples trabalho ou ideia. Sendo primariamente um activista ele podia parar, algumas vezes literalmente em meias-frases ou julgamentos, de participar nas lutas, greves e revoltas. O que ele deixou para a posterioridade é uma colecção de belos fragmentos. E mesmo a sua escrita está cheia de compreensões que são hoje tão importantes como o eram no seu tempo.
                                           

O perigo da ditadura.
                                                                                      
Mesmo compreendendo que as ideias e os intelectuais têm um papel muito importante a jogar na revolução, um papel de educação e de articulação dos desejos e das necessidades das pessoas, Bakunin costumava avisar-nos dum grande perigo sempre à espreita. Ele advertiu-os contra as tentativas dessa minoria tomar o poder e criar uma “ditadura do proletariado”. A noção de que um pequeno grupo de pessoas, não importa o quão boas poderiam ser as suas intenções, actuando em nome da maioria, podia executar um golpe de estado para o beneficio da maioria, era uma grande “heresia contra o senso comum”. Muito antes da Revolução russa ele avisou que uma nova classe alienadora de intelectuais, semi-intelectuais ambiçiosos e pequeno-burgueses, podiam calçar os sapatos dos grandes agrários, proprietários, patrões e capitalistas, e deste modo negar ao povo trabalhador a sua liberdade e a justiça social.
                                                                                                             
Em 1873 ele previu com grande precisão, que sob a denominada “ditadura do proletariado” dos marxistas, os lideres do partido poderiam concentrar as rédeas do poder com mão de ferro, e dividir as massas em dois grandes sectores (industrial e agrícola) sob o comando directo dos engenheiros do estado neo-capitalista que constituiriam assim uma nova classe política e cientifica privilegiada. Bakunin compreendeu que o governo é um meio pelo qual uma minoria governa. Deste modo o “poder politico” significa a concentração da autoridade nas mãos de alguns poucos. Ele declarou, que isto tem de ser abolido. Em vez disso deveria ter lugar uma “revolução social” que irá mudar a relação entre o povo e colocar o poder nas mãos das massas populares através das suas próprias federações de organizações voluntárias. “É necessário abolir completamente e em principio e na prática tudo o que possa ser chamado de “poder político”, por mais tempo que esse poder politico dure, a sua existência implicará sempre ter governadores e governados, patrões e escravos, exploradores e explorados”. Hoje quem é que ousará dizer o contrário, e que ele estava errado? Apesar de mais de um século depois destas passagens terem sido escritas por Miguel Bakunin, a veneração pelo estado e do poder, tornou-se numa autentica religião ultra- materialista para uma grande parte das pessoas e do mundo de hoje, e nós temos visto na prática o cumprimento da sombria previsão de Bakunin sobre os falhanços e recuos do socialismo marxista. A História ela mesma mostrou-nos a importância dos seus argumentos.

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